domingo, 10 de março de 2013

A verdade é esta

Nem sei muito bem por onde começar este post e nem fazia tenções de o escrever. O que é certo é que ultimamente tenho lido em alguns blogs sobre este tema e nunca me apeteceu comentar, embora entenda na perfeição o que as pessoas estão a descrever.

Nunca fui uma pessoa depressiva. Mesmo com alguns contratempos que a vida me vinha trazendo, acho que o meu instinto de sobrevivência nunca me permitiu pensar muito sobre as coisas que aconteciam. O importante era resolvê-las, era apoiar a minha família e amigos se fosse caso disso.

Há cerca de dois anos e pouco comecei a entrar numa espiral descendente que atribui apenas a uma fase menos boa. Estava metida numa relação condenada que tal como se veio a confirmar, não deu em  nada. Meti-me, no meio desse percurso, numa outra que também não me acrescentou nada. A par disto desenrolavam-se outras coisas na minha vida, com pessoas próximas e que foi necessário dar a mão.
Inicialmente achei que seria capaz de controlar tudo. Não sabia, como sei agora que estava a iniciar um processo depressivo a uma velocidade que não me permitiu mais colocar um ponto final.

Durante estes dois anos, motivada pela desilusão que tive com pessoas próximas e com o acrescento de relações completamente falhadas, a minha auto-estima e o meu amor próprio ficaram enterrados algures. Achei-me injustiçada no modo como as pessoas lidaram comigo e me fizeram sentir. Esse sentimento de injustiça e de desilusão começou a tomar conta de mim num sentido visceral. Sentia-me uma inútil, um encosto, desmerecedora de qualquer coisa que fosse boa. A partir daqui todos os meus dias se tornaram uma repetição de si mesmos. Acordava angustiada, a perguntar qual o sentido da vida e qual o verdadeiro motivo para me levantar da cama. Acabava por me levantar, por ir trabalhar, por me distrair, por ficar melhor. No dia seguinte a sensação era a mesma. 

Entretanto, como se não bastasse sentir-me assim, comecei a carregar um sentimento de culpa. Comecei a considerar que seria má pessoa porque me sentia triste, sozinha e profundamente angustiada, ao invés de me sentir feliz e contente pelas outras pessoas que me rodeavam. Esta ambiguidade de sentimentos fez com que muitas vezes acreditasse que era má pessoa por me sentir assim, por não dar a volta por cima, por me deixar afectar pelo modo como algumas pessoas me fizeram sentir, ainda que sem intenção.

Aos poucos o tempo foi passando e comecei a alternar dias bons com dias maus. Vinham uma série de dias bons e de repente, sem que nada fizesse esperar, voltavam os dias maus, a angústia matinal, a tristeza recorrente, a solidão obrigada. 

Iniciei então uma nova luta comigo mesma: tentar dar a volta por cima. Tentei interiorizar que a vida não poderia ser só coisas más, que apesar de tudo valia a pena fazer as coisas bem feitas, que tudo tem um tempo e que o meu haveria de chegar. Esta luta mantém-se ainda hoje, mas cansa muito, imenso. 

Tentei acreditar, no passar de cada ano, ou de cada aniversário que uma nova fase chegaria. Nunca chegou. Tentei acreditar que pessoas positivas fazem acontecer coisas positivas. Assim, não deixava transparecer o que me ia na alma, tentei ver o que de positivo os meus dias me traziam, tentei estar mais vezes com pessoas que gosto e coloquei de parte aquelas com as quais deixei de me sentir eu própria. Alimentei a ideia que não há mal em conhecer pessoas novas e arriscar para fora da zona de conforto. Fiz isso. Ainda faço. Mas nada mudou ainda. E começa um novo ciclo de culpa e auto-comiseração: comigo nunca há-de ser diferente!

Às tantas, as coisas negativas ganham uma proporção tão grande que se torna difícil ver as positivas. Cada acto, cada palavra mal empregue, cada gesto mal intencionado se transforma num fardo pesadíssimo de carregar. E de carregar sozinha. Deixei de deixar que as pessoas carregassem este fardo comigo. Faço-o sozinha. Pouquíssima gente sabe que me sinto assim e muitas mais não farão a mínima ideia que passo por isto diariamente. O silêncio tornou-se o meu maior aliado e troco-o por conversas superficiais que em nada fazem antever o que vai cá dentro. 

De qualquer modo, estes dois anos permitiram-me ir fazendo uma avaliação de mim mesma (tantas vezes errada e até injusta). Consegui ser mais fiel às coisas que não quero e deixar de sentir culpa ou pena por não querer. Consegui perceber que as reações tidas por carência são terrivelmente nefastas. Consegui perceber que também sou humana e que nem sempre vou ter sentimentos nobres e bons em relação às coisas e que isso não faz mal. Consegui perceber e admitir que afinal isto não é uma fase e que do que eu sofro é de uma depressão arrastada. Hoje ainda não me refiz dela, tenho essa consciência. No meu intimo, continuo a acreditar que ainda haverá, para mim, um lugar ao sol. 

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