domingo, 24 de fevereiro de 2013

Hey... pssttttt



Hey, menina, tu aí, tu mesma. Ando a procurar-te por todo o lado e julgava que não te encontrava mais. Pensei até que tivesses desaparecido para sempre, sem deixar rasto. Mas afinal estás aí escondida, como sempre. 
Continuas igual. O cabelo com risco ao meio e atado num rabo de cavalo. Os óculos na cara porque só assim consegues ver bem o mundo. Lembro-me que ficaste tão contente quando compraste os óculos. Na altura nem era moda, mas o que é certo é que assim que os teus pais te levaram ao oftalmologista perceberam que afinal vias mesmo mal e que era mesmo urgente comprares uns óculos. Assim que os puseste e viste o mundo nítido outra vez, ficaste delirante, embora os óculos sejam feios e te façam parecer meia tótó. 
Não gosto do modo como continuas a olhar para o mundo. Aliás, agora que vês tão melhor, porque não enxergas as coisas que eu agora consigo enxergar? Mas não te podia dizer isso na altura e nem agora posso. 
Sabes, um dia quando tiveres 30 anos alguém te vai dizer que a tua sombra é tão maior que tu. E tu não vais entender, mas olha que é verdade. Sempre gostaste mais de estar à sombra. No conforto da sombra aprecias melhor o que se passa em plena luz, mas não precisas de franzir os olhos. O que não significa que o que vejas seja o que mais devias valorizar. Estás a olhar para ti e a pensar porque não podes ser assim também, como os outros, tão igual aos outros. Queria dizer-te que não vale a pena seres assim ou assado, és aquilo que souberes ser. Aliás, o esforço que fazes por ser um pouco melhor todos os dias já faz de ti uma pessoa especial, bonita, merecedora. 
É certo que não és o cisne da escola. Não te vou mentir. Esse teu ar demasiado desportivo e blasé de quem não se importa com o que tem vestido não te favorece, mas aceita-se. Mas que não seja por isso que te sintas inferior, por favor. Olho para ti agora e vejo-te de uma forma tão especial, tão diferente da que tu te consegues ver agora.
Já consigo denotar um feitio torto, mas justo. Gosto desse teu sentido de justiça, embora isso seja muito diferente para cada uma das pessoas com quem te cruzares daqui para a frente. Mas o teu é o teu.
Estou a falar contigo agora porque gostaria que visses em ti a pessoa especial que és. Sei que não me vais ouvir, nem vais ligar nenhuma ao que te vou dizer, mas era importante que ligasses. Que fizesses por gostar dessa pessoa que mora em ti, ao invés de achares que os teus modelos vizinhos serão sempre os melhores, os mais bonitos e os mais bem-sucedidos. Sei que irás sentir isso por muito mais tempo, embora te garanta que, pelo menos vais ficar mais parecida com um cisne. Vais mudar, vais crescer, vais tornar-te bonita. Mas sei que apesar disso te vais esquecer do que és, da tua essência, do que de melhor tu tens e que construíste e que sabes que mais ninguém construiu como tu. Gostaria que te libertasses disso agora para que um dia isso não volte a renascer em ti, como sei que vai renascer.
Pensa nisto. E lembra-te que mais ninguém te vai dizer isto com tamanha sinceridade: gosto de ti!

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