quarta-feira, 30 de maio de 2012

Das boas lembranças





Ontem, ao final do dia, toca o meu telemóvel. Número privado. Detesto números privados. Geralmente ou é do trabalho ou é para me chatearem com alguma campanha, promoção, venda de produtos e afins. Atendi, com a minha voz solene de quem não sabe quem está a ligar. Abriu-se um sorriso na cara. Era a K. a minha amiga e companheira de vida. A K. foi viver para fora, bem longe de Portugal. Está bem e está feliz. Mas as saudades apertam muito. Não foi embora há muito tempo, mas tanto ela como eu temos a sensação que correram anos. Fico sempre um bocadinho histérica quando ela me liga. Ela está longe e a internet não funciona como cá. Por isso falamos tão poucas vezes, mas é sempre tãooo bom ouvi-la e sentir que pode ela ficar longe anos e anos que nada vai mudar.
Contámos muito rapidamente as novidades uma à outra. Como se tivéssemos o tempo contado e a qualquer momento o telefone se desligasse.
Quando desliguei o telefone estava a sorrir, porque me soube mesmo bem este telefonema. Depois não consegui deixar de pensar que nos habituamos muito facilmente à ausência das pessoas. Estranhamos muito ao início e depois habituamo-nos a que as pessoas deixem de estar por perto e quase que nos esquecemos da falta que elas nos fazem nas mais pequenas coisas. E ao pensar nisto não consegui deixar de sentir uma nostalgia enorme dos pequenos almoços no café da nossa zona aos domingos, dos jantares cá em casa, dos cinemas de fim de tarde, dos copos aos fins-de-semana, das conversas intermináveis. Tenho saudades, acho que é isso e ela faz-me muita falta. Faz-me falta a calma e a serenidade dela, o modo optimista como encara as coisas, os conselhos tão sábios e coerentes, a delicadeza das palavras, o abraço sentido. No fundo acho que é isto, sinto muito a falta dela como sei que ela sentirá a minha, lá longe onde ela está.

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